Este site usa cookies para melhorar a navegação. Ao navegar no website concorda com o seu uso. Para saber mais leia a nossa Política de Cookies.

Padrão de fundo Logo

Impacto das alterações climáticas impõe adaptação

As alterações climáticas já estão aí, mas os esforços de adaptação estão apenas a começar. Os custos humanos, sociais e económicos da não adaptação serão enormes. Foi o tema de mais uma Climate Change Talk, com Júlia Seixas e Pedro Matos Soares, membros do Conselho Consultivo do Impact Center for Climate Change da Fidelidade.

Mitigação e adaptação. São estes os dois grandes vetores da ação climática. Se a mitigação é indispensável, a adaptação é imperativa. Neste ponto, Portugal está pouco preparado para a incidência crescente de ondas de calor, fogos florestais, inundações e problemas de saúde pública. E se a primeira preocupação é a proteção das populações, as alterações climáticas terão também um forte impacto nos negócios, em especial nas PME, que são mais de 99% das empresas em Portugal. Estes foram os alertas deixados pelos investigadores e professores universitários Júlia Seixas e Pedro Matos Soares.

Impacto já se verifica

Para Pedro Matos Soares, investigador principal em modelação climática (Universidade de Lisboa) e coordenador científico do Roteiro Nacional de Adaptação 2100, a questão da adaptação surge no imediato: “No contexto português, enfrentamos uma problemática muito complexa, que atinge diariamente as populações, e que tem vindo a agravar-se nos últimos anos.” Estamos a falar “de ondas de calor, de grandes incêndios, de inundações, de subida do nível do mar, e de problemas de saúde pública”. Neste contexto, defende, “é necessário aumentar a ação climática, com o foco na proteção das populações, mas também na necessidade de maior articulação enquanto sociedade e de mitigação das consequências económicas e do impacto no nosso desenvolvimento”.

Impacto das alterações climáticas impõe adaptação

Duas frentes de combate

Esta ação climática tem dois grandes vetores: a mitigação e a adaptação. “São duas frentes em que temos de combater simultaneamente”, salienta Pedro Matos Soares. Ou seja, “só enfrentando a necessidade de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa é que podemos ter esperança de, no futuro, vir a reduzir a frequência dos fenómenos climáticos extremos”, afirma. Entretanto, temos todos de nos adaptar a esta realidade. “Em Portugal, temos uma preparação que não é a melhor para lidar com a incidência crescente de ondas de calor, de fogos florestais, de inundações, e de problemas de saúde pública”, afirma Pedro Matos Soares.

“Precisamos de preparar a população, de construir uma sociedade que esteja consciente dos impactos das alterações climáticas e da necessidade de se adaptar.” Uma consciencialização que “tem de se estender a todos os setores económicos, que devem entender a necessidade de adaptação às alterações climáticas”, conclui o investigador.

Análise de risco nas PME

Júlia Seixas, pró-reitora e investigadora principal em Energia e Clima na NOVA FCT, salienta as potenciais consequências das alterações climáticas num tecido económico constituído quase na totalidade por pequenas e médias empresas. Uma PME enfrenta, neste contexto, um conjunto específico de desafios. “São empresas normalmente com menos capacidade financeira para definir estratégias e investir em conhecimento e em ferramentas que lhes permitam avaliar os riscos e impactos associados às alterações climáticas.” Muitas vezes, recorda, “esses impactos ocorrem numa cadeia de fornecedores globalizada em que uma inundação na Ásia ou uma seca na América Latina podem ter um impacto significativo no negócio”. O primeiro passo que as PME devem dar é em ter uma pessoa-chave capaz de avaliar estes impactos do clima na cadeia de distribuição. “As PME devem apostar no aumento do conhecimento interno e na capacitação dos recursos humanos sobre estas matérias.”

Impacto das alterações climáticas impõe adaptação

Com o aumento da frequência dos fenómenos extremos, “as empresas devem ser capazes de avaliar o impacto e o risco associado a estes fenómenos e devem levar a cabo estratégias de gestão do risco, por exemplo, diversificando fornecedores ou apostando em seguros que mitiguem os riscos”, defende Júlia Seixas.

Portugal tem Roteiro

A um nível mais macro, Portugal tem hoje já um Roteiro Nacional para Adaptação às Alterações Climáticas que, segundo o seu coordenador científico, Pedro Matos Soares, “caracteriza com muita acuidade quais são os custos económicos setoriais da mudança climática em curso e aborda a questão das medidas de adaptação necessárias para preparar cada setor para o clima do futuro”. “O Roteiro também calcula os custos da inação, de não investirmos na adaptação”, sublinha o investigador. E a conclusão, afirma, “é que podemos obviamente poupar muito dinheiro se soubermos preparar a nossa sociedade e economia para se tornar mais sustentável e adaptada às alterações climáticas”.

Acima do dinheiro, as vidas

No entanto, acima dos custos económicos põe-se a questão da proteção das populações e da vida humana. “Do ponto de vista do excesso de mortalidade em Portugal, mesmo que venhamos a cumprir o Acordo de Paris, estamos a falar, nos próximos anos, de uma duplicação da mortalidade ligada às ondas de calor”, alerta Pedro Matos Soares. Num cenário intermédio, “o excesso de mortalidade quadruplica”. Num cenário de inação, “o excesso de mortalidade irá ser multiplicado por oito”, garante o investigador. Isto para sublinhar “que estamos a falar das alterações climáticas como um fenómeno muito nefasto para a vida humana, em que temos a obrigação de salvaguardar a nossa população e proteger as pessoas mais vulneráveis”.