O Conselho Consultivo do ICCC
11 Out 2024
O novo centro de estudos da seguradora sobre fenómenos extremos como grandes incêndios e inundações vai ajudar a criar um Centro de Conhecimento dedicado ao estudo aprofundado das alterações climáticas. O lançamento do ICCC juntou especialistas nacionais e internacionais.
Foi perante um auditório cheio, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, que teve lugar a apresentação do Impact Center for Climate Change (ICCC), um Centro de Conhecimento dedicado ao estudo aprofundado das alterações climáticas e que pretende mitigar riscos e propor adaptações eficazes para a proteção do planeta, pessoas e recursos.
Atualmente, a Fidelidade tem um conjunto ambicioso de iniciativas para atingir a neutralidade carbónica. A seguradora criou um Fundo Florestal, participa nas Conferências das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP) e em diversas iniciativas da ONU. Lança agora um Centro de Conhecimento que vai aliar as competências e recursos internos da Fidelidade à investigação científica e a parcerias com entidades externas, incluindo universidades, centros de investigação, entidades públicas, resseguradores e consórcios internacionais.
O envolvimento ativo da Fidelidade neste combate é, para Rogério Campos Henriques, CEO da seguradora, mais um passo numa estratégia de sustentabilidade de longo prazo, como explicou na abertura da conferência. “Para nós a sustentabilidade não é um conceito abstrato. É um pilar fundamental da nossa atividade e está no nosso ADN”. De acordo com o CEO da Fidelidade, “a indústria seguradora tem um papel a desempenhar na resposta a este desafio. Não só porque é diretamente afetada pelas alterações climáticas, mas porque pode fazer a diferença, contribuindo para criar mais conhecimento sobre os riscos, e incentivando a adoção de comportamentos ambientalmente mais responsáveis, por parte dos seus milhões de clientes”.
O ICCC não irá apenas gerar estudos, mas pretende contribuir para que o conhecimento gerado seja transposto para o mundo real.
As áreas prioritárias de investigação do ICCC incluem incêndios, vulnerabilidades das habitações e inundações, abordando os riscos específicos das alterações climáticas em Portugal. O centro pretende “criar uma plataforma de partilha e diálogo sobre o conhecimento relacionado com alterações climáticas, partilhando informação de base científica com a sociedade em geral e também com os nossos decisores políticos”, afirmou no auditório Rui Esteves, Diretor de Estatística e Estudos Técnicos Não Vida da Fidelidade e co-coordenador do ICCC. De acordo com Rui Esteves, “o ICCC não irá apenas gerar estudos, mas pretende contribuir para que o conhecimento gerado seja transposto para o mundo real”. Daí a importância das parcerias com entidades externas, “que nos trazem as suas perspetivas, o seu conhecimento e preocupações, e que nos ajudam a identificar onde é que as iniciativas do ICCC podem criar mais valor”.
O ICCC conta com uma equipa multidisciplinar que tem no Conselho Consultivo, constituído por especialistas de referência nacional e internacional (ver caixa), uma peça essencial. Foi exatamente um painel constituído por membros do Conselho Consultivo que se debruçou sobre o tema “Como impulsionar uma maior ação climática?”. Para o ex-jornalista Andrew Revkin, que escreveu sobre temas ambientais nos últimos 40 anos, para o New York Times e outros títulos, “é necessário fazer mais jornalismo e informar melhor sobre a necessidade de aumentar a resiliência aos impactos das alterações climáticas”. As mudanças que viu em quatro décadas foram enormes. “Passei de fazer peças relativamente simples sobre poluição para histórias muito mais complexas sobre o clima e os ecossistemas, com imensas ramificações políticas, sociais e económicas com impacto local e alcance global”.
Para Pedro Matos Soares, investigador da Universidade de Lisboa e autor do Roteiro Nacional de Adaptação 2100, existe claramente um défice de preparação do país para as consequências já previsíveis das alterações climáticas. “Uma das melhores maneiras de fazer progresso na resiliência das nossas sociedades é aplicando os dados para demonstrar os benefícios de um maior investimento na mitigação dos impactos”, afirmou.
Na perspetiva de Luísa Schmidt, Investigadora Principal em Sustentabilidade do ICS-Universidade de Lisboa, a concentração da população no litoral e o desordenamento territorial, bem como os direitos adquiridos que continuam a viabilizar a construção na linha de costa, dificultam os esforços de adaptação de Portugal às alterações climáticas. No país há três áreas “preocupantes”: “as secas prolongadas, os fogos cada vez mais frequentes e descontrolados, e a erosão da linha de costa”. Na sua visão, “é necessário começar a preparar o recuo planeado das populações de algumas zonas costeiras”.
Na visão de Nuno Oliveira, CEO da consultora Natural Business Intelligence, a crise climática tem “ocultado” uma crise mais geral dos ecossistemas e da biodiversidade O CEO da Fidelidade, Rogério Campos Henriques, na abertura da conferência que está, também a contribuir para as alterações em curso. Na sua perspetiva, “uma abordagem inteligente à preservação e desenvolvimento dos ecossistemas ajudaria muito na mitigação dos impactos”.
Também para Júlia Seixas, Pró-Reitora e Investigadora Principal em Energia e Clima da NOVA FCT, o trabalho na sensibilização para a sustentabilidade e na mitigação dos impactos das alterações climáticas nas Pequenas e Médias Empresas (PME’s) – que são a esmagadora maioria do tecido empresarial – é um aspeto crucial deste combate.
A indústria seguradora tem um papel a desempenhar na resposta a este desafio contribuindo para criar mais conhecimento sobre os riscos e incentivando a adoção de comportamentos ambientalmente mais responsáveis, por parte dos seus milhões de clientes.
Butch Bacani, Diretor das Iniciativas para a Indústria Seguradora nas Nações Unidas, falou do contributo da indústria seguradora para uma melhor mitigação e adaptação aos riscos climáticos. “O que está em jogo não é apenas salvar o planeta mas sim salvar modos de vida e não destruir as possibilidades das gerações futuras”. Um desafio que a ONU já incorporou. “As Nações Unidas perceberam que para ter sucesso teriam que envolver as empresas e nomeadamente o setor financeiro na luta para que seremos capazes de construir um futuro próspero para todos num planeta saudável”, concluiu.
Neste contexto, também a intervenção que antecedeu o painel, por Maryam Golnaraghi, Diretora para as Alterações Climáticas e Ambiente na Geneva Association, incidiu na forma como a indústria seguradora pode criar incentivos para que empresas adotem comportamentos e façam investimentos que ajudem a mitigar riscos. Na sua perspetiva “necessitamos de uma mudança de paradigma”. Nomeadamente, “revisitando todo o ciclo de vida de um ativo – uma casa por exemplo – para, em cada passo, reavaliar a gestão dos riscos associados”.
No último painel sobre “Ação Climática no Mundo Real”, Ângela Morgado, Diretora Executiva do World Wide Fund For Nature Portugal, e Tiago Oliveira, Presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, com a moderação de João Mestre, Diretor de Sustentabilidade da Fidelidade, debateram as estratégias possíveis de ação climática em Portugal neste momento. Para a representante do WWF, existem múltiplos estudos que podem orientar a ação concreta das empresas e dos governos. Para Tiago Oliveira, perante o aumento da ameaça dos grandes incêndios florestais, é preciso seguir a ciência na definição das políticas de combate e prevenção.
No fecho da sessão, Jorge Magalhães Correia, Chairman da Fidelidade, considerou que o lançamento do ICCC pela empresa é mais um exemplo da “adaptação ativa” que a seguradora sempre seguiu perante novas realidades e em momentos de viragem. “ São momentos em que precisamos de aprender mais e aprender mais depressa, como organização”, afirmou. “Só o conhecimento é fonte de vantagens competitivas duradoras. E para termos mais conhecimento precisamos de aprender. É por isso que apoiamos e lançamos iniciativas como o ICCC. Porque sabemos que estamos num ponto de viragem que exige posições claras e corajosas das empresas como agentes promotores da cidadania”, concluiu.